Em pé na porta de uma residência simples, com dois cômodos, dona Judite dos Santos termina a conversa cantando os versos da música que muito escutou em Campo Formoso, na Bahia: ''Acorda, Maria Bonita/ Levanta, vai fazer o café/ Que o dia já vem raiando/ E a polícia já está em pé''.
Vivendo a milhares de quilômetros da terra natal, a senhora de rosto marcado, cabelos brancos e um sorriso incontrolável está prestes a comemorar um século de vida no próximo dia 14, com direito a uma celebração religiosa e uma festa organizada pelo Centro de Educação Infantil (CEI) Irmãs de Betânia, no Jardim Nossa Senhora da Paz, zona oeste de Londrina.
Sua história de vida carrega traços de sofrimento, simplicidade e muito saudosismo. Com uma memória ativa e um ótimo humor, essa baiana relembra a infância vivida no sertão, a presença de Lampião em sua casa e a canção, que escutava ele cantar para Maria Bonita levantar e fazer o café.
Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, foi o mais famoso cangaceiro nas décadas de 20 e 30. Sua liderança era respeitada por todos os cantos do Nordeste, inclusive na terra de dona Judite, onde ele chegava acompanhado por outros 12 cangaceiros e sua companheira Maria Bonita, a única mulher do bando.
O cangaço foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro, originado em questões sociais e fundiárias da região e caracterizado por ações violentas. O grupo não tinha moradia fixa e perambulava pelo sertão, praticando assaltos, pegando as mulheres à força e matando quem não os respeitava.
Com apenas 10 anos, dona Judite viu Lampião entrar em sua casa e usar a panela de barro de sua avó para cozinhar um bode que havia acabado de matar. ''Todo mundo tinha medo dele, principalmente as mulheres. Quem não o respeitasse, era morto. Um dia, vi ele matar um velho, empurrando ele contra um pé de mandacaru, que tem uns espinhos deste tamanho'', diz, mostrando a palma da mão.
O chapéu de couro, a farda azul da polícia e a sanfona eram características marcantes dos cangaceiros, segundo dona Judite. Ela conta que seu pai não falava nada sobre o assunto, mas quando o bando chegava, era preciso entregar todo o dinheiro obtido com a venda de mandioca, mel e animais.
''Lampião era grande, alto, 'grosso' e tinha um olho cego. Mas ele também era alegre e conversava com os pequenos. As meninas achavam ele bonito e eu gostava do vestuário, com aquele cinturão carregado de bala'', diz animada.
O grupo andava a cavalo ou a pé, dormia em redes ou no próprio chão e fazia tocaias por toda a caatinga. ''Minha avó morria de medo deles e dizia no meio do caminho: 'vamo correr, vamo'. Me lembro dela correndo feito doida com a trouxa de roupa na cabeça, fugindo dos cangaceiros'', conta, aos risos.
Criada pelo pai e pela avó, dona Judite não chegou a conhecer a mãe, que foi expulsa de casa quando ainda era bebê. Ela teve irmãos, mas nunca se conheceram. Aos 14 anos, Judite se casou e anos depois, o cunhado, que já estava instalado no Paraná, foi buscá-los para trabalhar na lavoura. ''Ele falou que aqui tinha café e trabalho. Quando a gente chegou a Londrina, veio aquela geada que acabou com tudo. Estou até hoje aqui porque na Bahia não tem mais minha gente'', comenta.
Os tempos dedicados à lavoura, o gosto por comidas simples e a devoção as são respostas que dona Judite encontra para justificar os 100 anos de vida. Das lembranças da vida deixada no sertão, só restam agora a saudade e os quadros de santos pendurados na parede. Quanto à solidão, a baiana tem uma só resposta: ''o importante é sorrir para tudo''. E da porta de casa, se despede com alegria, cantando para a vida.
Vivendo a milhares de quilômetros da terra natal, a senhora de rosto marcado, cabelos brancos e um sorriso incontrolável está prestes a comemorar um século de vida no próximo dia 14, com direito a uma celebração religiosa e uma festa organizada pelo Centro de Educação Infantil (CEI) Irmãs de Betânia, no Jardim Nossa Senhora da Paz, zona oeste de Londrina.
Sua história de vida carrega traços de sofrimento, simplicidade e muito saudosismo. Com uma memória ativa e um ótimo humor, essa baiana relembra a infância vivida no sertão, a presença de Lampião em sua casa e a canção, que escutava ele cantar para Maria Bonita levantar e fazer o café.
Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião, foi o mais famoso cangaceiro nas décadas de 20 e 30. Sua liderança era respeitada por todos os cantos do Nordeste, inclusive na terra de dona Judite, onde ele chegava acompanhado por outros 12 cangaceiros e sua companheira Maria Bonita, a única mulher do bando.
O cangaço foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro, originado em questões sociais e fundiárias da região e caracterizado por ações violentas. O grupo não tinha moradia fixa e perambulava pelo sertão, praticando assaltos, pegando as mulheres à força e matando quem não os respeitava.
Com apenas 10 anos, dona Judite viu Lampião entrar em sua casa e usar a panela de barro de sua avó para cozinhar um bode que havia acabado de matar. ''Todo mundo tinha medo dele, principalmente as mulheres. Quem não o respeitasse, era morto. Um dia, vi ele matar um velho, empurrando ele contra um pé de mandacaru, que tem uns espinhos deste tamanho'', diz, mostrando a palma da mão.
O chapéu de couro, a farda azul da polícia e a sanfona eram características marcantes dos cangaceiros, segundo dona Judite. Ela conta que seu pai não falava nada sobre o assunto, mas quando o bando chegava, era preciso entregar todo o dinheiro obtido com a venda de mandioca, mel e animais.
''Lampião era grande, alto, 'grosso' e tinha um olho cego. Mas ele também era alegre e conversava com os pequenos. As meninas achavam ele bonito e eu gostava do vestuário, com aquele cinturão carregado de bala'', diz animada.
O grupo andava a cavalo ou a pé, dormia em redes ou no próprio chão e fazia tocaias por toda a caatinga. ''Minha avó morria de medo deles e dizia no meio do caminho: 'vamo correr, vamo'. Me lembro dela correndo feito doida com a trouxa de roupa na cabeça, fugindo dos cangaceiros'', conta, aos risos.
Criada pelo pai e pela avó, dona Judite não chegou a conhecer a mãe, que foi expulsa de casa quando ainda era bebê. Ela teve irmãos, mas nunca se conheceram. Aos 14 anos, Judite se casou e anos depois, o cunhado, que já estava instalado no Paraná, foi buscá-los para trabalhar na lavoura. ''Ele falou que aqui tinha café e trabalho. Quando a gente chegou a Londrina, veio aquela geada que acabou com tudo. Estou até hoje aqui porque na Bahia não tem mais minha gente'', comenta.
Os tempos dedicados à lavoura, o gosto por comidas simples e a devoção as são respostas que dona Judite encontra para justificar os 100 anos de vida. Das lembranças da vida deixada no sertão, só restam agora a saudade e os quadros de santos pendurados na parede. Quanto à solidão, a baiana tem uma só resposta: ''o importante é sorrir para tudo''. E da porta de casa, se despede com alegria, cantando para a vida.
Micaela Orikasa
Reportagem Local
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